Eu queria ser livre. Livre pra ir e vir, ser
simples, descomplexa. Livre hoje, agora. Mas ao invés disso, vivo dentro de uma
enorme prisão, onde as paredes se espessam a cada dia. Refém dos médicos, dos
remédios, dos produtos, dos conceitos e preconceitos, de mim mesma...
Um dia tive um sonho lindo, onde podia ser como um
pássaro e voar sem destino, sentindo o vento no rosto, nas asas... Sem depender
de ninguém, de nada.
Queria me ver nua, despida das correntes, dos
grilhões, das grades que construí a meu redor, talvez pra me sentir segura,
talvez por temer tanto. Temer a vida, temer os vivos.
Sonhava não estar ligada e esse corpo alquebrado,
limitado e mortal. Sonhava poder me expandir infinitamente pelo universo e ao
invés disso, sinto estar encolhendo pra dentro de um buraco negro que me engole
a cada instante.
Queria acordar um dia e fazer tudo diferente. Perder
de vista o sofrimento, esquecer quem sou e então, poder voltar pra mim por
saudade, por amor, sem ser puxada por essa violenta gravidade que consome os
sonhos, que me faz alerta.
Perder a sensação do corpo e também da mente, mas ainda
estando ciente de existir. Correr e correr até não sentir mais nada,
dissolvendo-me assim no tudo e no nada, plena, completa, eterna.
Mas esse dia a de chegar e eu preciso acreditar! E
enquanto ele não vem, vou vivendo no tempo e no espaço, confinada a essa
existência tola e cruel, buscando a resignação necessária, que diminui a espera
e me torna mais apta a suportar o agora. Com as ferramentas rudimentares que
possuo hoje, vou lapidando as mesmas, nos recursos de amanhã.
Sigo assim, moldando esse pequeno passarinho, em uma
linda e gloriosa fênix que um dia despertará...
M.