Essa carta não se destina a ninguém em
particular. Nem aos amigos, nem aos inimigos, que a esse ponto estou certa,
devo ter algum. Mas a todos aqueles entre uma coisa e outra, indefinidos, em
suspenso. Pessoas que povoam meu mundo, apesar de geralmente à distância.
Pessoas, complexas... Pessoas...
Durante toda minha vida, em todas as
circunstâncias em que tentei pertencer, fazer parte de algo, me deparei com a
mesma situação. Não importa o que você faça, ou que não faça, ou fale ou não
fale, sempre vai ter alguém pensando algo ruim a seu respeito. Todos os seres
da humanidade e até aqueles que nos circundam, haverão inevitavelmente de
encontrar homens e mulheres dispostos a brigar, fazer intrigas e mesmo levantar
suspeitas a seu respeito.
Eu só queria ser capaz de entender o porquê de
tanta discórdia. Daí eu escuto “É da natureza humana questionar, protestar...”
Tá bom, mas eu estou falando de algo bem mais profundo aqui. Estou falando da
verdadeira incapacidade que temos de viver em paz uns com os outros, com nossos
irmãos, com nosso mundo. Por quê? Da onde vem essa necessidade de discutir, de
estar contra, de apontar os defeitos dos outros constantemente? Sabia que pra
você estar certo, o outro não tem que estar errado? Sabia que amar, respeitar e
coexistir em paz é bem mais gostoso que odiar, difamar, guerrear? Eu juro pra
você que é verdade!
E se isso me torna menos humana, não me
espanta, mas gostaria de pensar que fosse o oposto. Que pudéssemos todos
caminhar juntos nessa direção. Trilhar o caminho do amor ao próximo, da
tolerância e do respeito.
Mas confesso estar cansada e com a esperança
murcha. Foram tantas tentativas e todas elas frustradas pelos mesmos
comportamentos. E mesmo a esperança sendo a última sobrevivente nesse campo de
batalhas, eu infelizmente, não sou eterna.
Desde que me entendo por gente tem sido assim,
desde a adolescência pelo menos, quando já então me identificava sempre com as
minorias e queria me enquadrar entre aqueles que julgava estarem no mesmo
contexto que eu. Acho que a pessoa se acostuma por precisar estar sempre
lutando, e se esquece de não fazê-lo quando é mais importante esquecer...
Eu queria muito viver em um mundo onde as
pessoas não precisassem ter razão o tempo todo. Onde fosse permitido
simplesmente concordar, ou discordar, sem que isso acarretasse tanto prejuízo
ao outro. Sem verdades, sem mentiras. Sem que o seu espaço tivesse
obrigatoriamente que acabar onde começo o meu. Por que a verdade nunca será uma
só, ela sempre vai depender de pontos de referência, de pontos de vista. Mas o
espaço, esse sim é um só e se a gente não aprende a dividir uns com os outros,
não vai sobrar nada pra nenhum de nós. Talvez dois corpos não possam ocupar o
mesmo lugar no espaço, mas se dermos as mãos e nos apoiarmos uns nos outros,
ele será sempre infinito, pois vai caber todo mundo e muito mais.
Então fica aqui, esse depoimento angustiado de
um coração que teima em fazer parte do todo. E um convite. Você estaria
disposto a ao menos tentar?
Maya Rubinger
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