Eu vi um filme sobre um lobo e um leão que cresceram juntos. Me trouxe
lembranças daquele tempo, quando eu era mãe. Doces lembranças dos
pequenos que criei, daqueles que salvei, de todo amor doado e igualmente
recebido. Mas vieram também as lembranças dos dias mais duros, quando
tive que ser forte pra muito além do que achava possível. Da despedida
sofrida, a dor da partida daqueles que deram um sentido a minha vida por
bons anos. Segurar os filhos nos braços, quando suas almas deixavam
seus corpos... Sim, não há dor maior, mas ao mesmo tempo, eu sabia que
tinha que ser assim. E por amor, engoli o choro e todo aquele turbilhão
de emoções pois naquele momento, eram eles que precisavam de mim. Minhas
jóias mais raras, aqueles a quem dediquei meu melhor, meu tudo. Eu
precisava estar inteira pra eles, por eles. E assim foi.
Muitos anos
se passaram. Eu não me permiti sofrer. Eu precisava estar em paz, pra
que seguissem seus caminhos. Hoje, talvez pela primeira vez, eu tenha
sentido a dor que segurei durante tantos anos, trancada no porão da
minha alma pra que meus filhos nunca sentissem o que eu sentiria.
E por
amor, eu me permiti sentir. Porão lavado, com lágrimas antigas... Quase
secas pelos anos vividos sem propósito. Mas dessa vez, eu chorei. Chorei
por eles, chorei por mim.
E agora, nessa nova vida sem laços, sem
amores, onde sou e apenas sou, existindo sustentada por um amor de outra
ordem, que talvez eu nunca tenha conhecido. Amor por mim. Amor Divino.
Amor sublime que me conecta a luz de tudo que é. Começo de novo. A
passos infantes, buscando mais uma vez, um norte, um novo propósito.
Quem sou eu agora? Ainda não sei. Tudo que sei é que já não caminho só.
Pois minha presença é Divina. Divina, presença Eu Sou. E assim me
conduzo, ou sou guiada, nesse amor maior...
Mas quem era a águia? A águia era eu...
M.