sábado, 24 de setembro de 2016

Pivete (1993)



Quem é ele senão alguém
Que foi criado como um ser vil
Sem direitos, sem amor
Ensinado a lutar com todas as forças
Para conseguir sobreviver?
Quando diz “vou te pegar”
Ou rouba uma carteira
Ou até mesmo maltrata um animal
Ele não está sendo mal
Mas sim refletindo a agressividade de uma sociedade
Que lhe ensina a estar sempre alerta
E pronto a atacar a qualquer momento
Mal e sem escrúpulos é o outro
Que ávido de poder e cultura
Usa sua sabedoria e dinheiro
Para sacrificar esses pobres “animais”
A quem tanto desprezo ostenta
Quando chama de pivete
Eles que tiveram coragem
De deixar que as ruas se enchessem de crianças
Maltrapilhas, transtornadas de fome e frio
Que desse mundo só conhecem a dor e a miséria
Não tenho pena apenas dessas crianças
Mas acima de tudo
Tenho muita pena sim
Desses homens “poderosos”
Que não conhecem o mais pleno e absoluto dos sentimentos
O amor ao próximo
E então, quando vemos esses meninos
Sofrendo e nos odiando
Tomamos consciência de que
Estamos confrontando um ser humano
Que foi incumbido de desempenhar uma tarefa
Bem maior do que suas forças lhe permitem
Lutar pela sua sobrevivência, sem a ajuda de ninguém
Sem nenhum recurso
Sabendo que não há possibilidades de vida estável
Fazendo-os tomar mais desprezo pela minha, pela sua, pelas próprias vidas...

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