sábado, 17 de dezembro de 2016

O que ninguém mais vê (04 de dezembro, 2016)



Olho no espelho, olhos nos olhos
Vejo algo que ninguém mais vê
A dita beleza se esconde por trás do medo, da incerteza
Olheiras profundas, um corpo que sente
Todo o trabalho por trás de uma mente
Pulsando, ardendo
A boca amarga, a carne fraca
Calor e frio, calafrios ao vento
Os dedos que tocam, sem precisar tocar
O sal das lágrimas, o suor intenso
Fadiga e anseio
Pelo que foi e pelo que virá
O peito acelera, convulsiona
As pernas fraquejam
Águas revoltas me levam de mim
Não consigo me conter
Ventos nervosos, me estraçalham, espalham
Nesse momento não sou mais nada
Apenas estou... Em toda parte

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Com o coração sangrando...



Essa carta não se destina a ninguém em particular. Nem aos amigos, nem aos inimigos, que a esse ponto estou certa, devo ter algum. Mas a todos aqueles entre uma coisa e outra, indefinidos, em suspenso. Pessoas que povoam meu mundo, apesar de geralmente à distância. Pessoas, complexas... Pessoas...

Durante toda minha vida, em todas as circunstâncias em que tentei pertencer, fazer parte de algo, me deparei com a mesma situação. Não importa o que você faça, ou que não faça, ou fale ou não fale, sempre vai ter alguém pensando algo ruim a seu respeito. Todos os seres da humanidade e até aqueles que nos circundam, haverão inevitavelmente de encontrar homens e mulheres dispostos a brigar, fazer intrigas e mesmo levantar suspeitas a seu respeito. 

Eu só queria ser capaz de entender o porquê de tanta discórdia. Daí eu escuto “É da natureza humana questionar, protestar...” Tá bom, mas eu estou falando de algo bem mais profundo aqui. Estou falando da verdadeira incapacidade que temos de viver em paz uns com os outros, com nossos irmãos, com nosso mundo. Por quê? Da onde vem essa necessidade de discutir, de estar contra, de apontar os defeitos dos outros constantemente? Sabia que pra você estar certo, o outro não tem que estar errado? Sabia que amar, respeitar e coexistir em paz é bem mais gostoso que odiar, difamar, guerrear? Eu juro pra você que é verdade!

E se isso me torna menos humana, não me espanta, mas gostaria de pensar que fosse o oposto. Que pudéssemos todos caminhar juntos nessa direção. Trilhar o caminho do amor ao próximo, da tolerância e do respeito.
Mas confesso estar cansada e com a esperança murcha. Foram tantas tentativas e todas elas frustradas pelos mesmos comportamentos. E mesmo a esperança sendo a última sobrevivente nesse campo de batalhas, eu infelizmente, não sou eterna.

Desde que me entendo por gente tem sido assim, desde a adolescência pelo menos, quando já então me identificava sempre com as minorias e queria me enquadrar entre aqueles que julgava estarem no mesmo contexto que eu. Acho que a pessoa se acostuma por precisar estar sempre lutando, e se esquece de não fazê-lo quando é mais importante esquecer... 

Eu queria muito viver em um mundo onde as pessoas não precisassem ter razão o tempo todo. Onde fosse permitido simplesmente concordar, ou discordar, sem que isso acarretasse tanto prejuízo ao outro. Sem verdades, sem mentiras. Sem que o seu espaço tivesse obrigatoriamente que acabar onde começo o meu. Por que a verdade nunca será uma só, ela sempre vai depender de pontos de referência, de pontos de vista. Mas o espaço, esse sim é um só e se a gente não aprende a dividir uns com os outros, não vai sobrar nada pra nenhum de nós. Talvez dois corpos não possam ocupar o mesmo lugar no espaço, mas se dermos as mãos e nos apoiarmos uns nos outros, ele será sempre infinito, pois vai caber todo mundo e muito mais.

Então fica aqui, esse depoimento angustiado de um coração que teima em fazer parte do todo. E um convite. Você estaria disposto a ao menos tentar?


Maya Rubinger