sábado, 26 de novembro de 2016

O bem mais precioso



Muitas pessoas se manifestaram sobre a dor de perder um filho. É sem sombra de dúvida a maior e pior dor que corpo e mente podem suportar.
A alma sangra em enxurrada, o peito parece ser dilacerado por mil navalhas em brasa a cortar a carne lentamente, como se algo ou alguém quisesse saborear o momento em câmera lenta. As entranhas se contorcem, o ar fica denso e você não consegue mais respirar... Vontade de gritar pra sempre, pra ver se alcança o menino e o trás de volta pra junto de si... Mas nessa hora você engole o grito, a dor, se segura pra não cair de si mesma e faz o que uma boa mãe tem que fazer. Aguenta firme, enquanto sente as partes do seu corpo sendo arrancadas sem anestesia.
Foi assim que eu me senti quando meu filho deixou seu corpinho e voou pra sua nova morada. Eu sabia que tinha que deixá-lo ir e chorei baixinho, por um longo tempo, pra que ele não se prendesse ao meu sofrimento. O momento era dele, só dele e eu não poderia fazer nada que lhe tirasse a paz.
Mas acredito que seja diferente pra cada mãe, dependendo da forma como ocorre e principalmente de como a pessoa lida com a perda e com suas crenças pessoais.
Saber que a morte é apenas um intervalo, longo e doloroso, mas ainda assim, somente isso, ajuda muito a lidar com a necessidade de ter que se separar do maior amor de sua vida.

A vida na terra pode ser muito cruel, mas tento encará-la como férias prolongadas que um dia terão um fim. O reencontro é certo e será ainda mais doce do que todos os dias e alegrias que meu filho me proporcionou.
Faruk foi e sempre será minha melhor metade, minha alma gêmea. Estaremos sempre juntos, independente da forma que nossos corpos tomem.
Um ser de muita luz, de muito amor e pureza plena. Moldado à imagem da perfeição.
E eu, a mais abençoada das criaturas, por ter tido a honra de recebê-lo e criá-lo, mesmo não tendo nascido de mim e sendo de outra espécie.
Ainda são poucos os seres humanos que conseguem perceber outras espécies como seus irmãos e iguais. Assim como tantos outros preconceitos que giram em torno de nossas vidas constantemente, esse é só mais um. E como todo preconceito, nasce e se fortalece, a partir de algo diferente e desconhecido. Mas em nome de todos às vezes em que fomos discriminados por sermos aparentemente diferentes é que digo, gostaria de poder doar aos meus irmãos humanos, as bênçãos que recebi... 

Acreditem, perante o cosmos, somos apenas um.


M.

3 comentários:

  1. Muito lindo Maya! Fico sem palavras.

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  2. Parabéns filha!
    Um belo recomeço, para quem andava afastada das letras.
    Já estava com saudades de ler esses lindos textos!
    Bjo,
    Sua mãe.

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